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Quem passa pelo tratamento de câncer de mama frequentemente precisa da terapia hormonal, chamada de Hormonioterapia. O tratamento consiste em um medicamento que reduz o efeito de hormônios (como estrógeno e progesterona) no corpo inteiro, e tem objetivo de reduzir o crescimento das células cancerígenas que têm receptores hormonais positivos, que pesquisas apontam ser cerca de 67% dos casos.

Geralmente, a hormonioterapia é feita após a cirurgia de retirada do tumor e/ou dos tecidos atingidos pelo câncer. Cada medicamento atua em uma porção diferente do ciclo hormonal, que pode ser desde a hipófise (no crânio) até ovários, tecido adiposo, mama e músculos. O objetivo é inibir a estimulação que esses hormônios fazem nas células cancerígenas da mama. As medicações dessa categoria mais frequentemente usadas são: tamoxifeno, anastrozol, letrozol, exemestano e fulvestanto.

Apesar de eficaz no tratamento do câncer, o tratamento afeta todas as células do corpo, e não só as cancerígenas. Efeitos colaterais são frequentes, como por exemplo dores articulares, fogachos, alteração do humor e do sono, alteração da concentração, secura vaginal, osteoporose. Esses efeitos são decorrentes da redução abrupta de estrógeno e progesterona nas células saudáveis (nos músculos, ossos, articulações, cérebro, intestino, etc).

Qual o papel da reabilitação na hormonioterapia?

A hormonioterapia pode causar diversas incapacidades físicas, neuropsíquicas e sexuais, como explicado acima. Além disso, ela pode piorar problemas musculoesqueléticos pré-existentes, como dores por tendinite e artrose. O papel da reabilitação é essencial nesses casos, promovendo funcionalidade, independência e qualidade de vida. Além disso, o controle desses sintomas pode ocasionar melhor controle do câncer. Isso porque é frequente pacientes terem que trocar para uma hormonioterapia menos eficiente no controle do câncer, devido aos efeitos colaterais. Um acompanhamento com Fisiatra e um programa de reabilitação adequado podem evitar isso, melhorando tanto qualidade de vida quanto sobrevida.

Dores articulares e tendíneas são frequentes. É necessária uma avaliação completa para identificar fatores que contribuem para essas dores e estabelecer um plano de tratamento adequado. O tratamento dessas complicações é personalizado para cada paciente, e pode ter vários componentes. Irei falar das opções mais frequentes a seguir.

Muitos pacientes têm melhora expressiva apenas com orientações de ergonomia de trabalho e de exercícios para fazer em casa. Frequentemente precisamos associar medicamentos orais e tópicos para o tratamento das dores. Podemos também, em casos selecionados, realizar infiltrações articulares ou peritendíneas para o alívio dessas dores.

Podemos nos valer de Fisioterapia e/ou Terapia Ocupacional em alguns casos. Nesses casos diferentes exercícios podem ser realizados, assim como treino adaptado das atividades diárias (como colocar roupa, cozinhar), avaliação de rotina e de gasto energético, bem como prescrição de órteses. Além disso, podemos utilizar diversos meios físicos, como eletroterapia, a termoterapia e a fototerapia.

A acupuntura tem se mostrado muito efetiva para o tratamento de diversos sintomas associados a hormonioterapias (dores, alteração do sono, fogachos), e é especialmente útil nos casos em que já uso de muitas medicações, ou naquelas pessoas extremamente sensíveis a medicamentos.

Educação alimentar é essencial. A obesidade piora os sintomas relacionados à hormonioterapia, pois as células adiposas produzem substâncias inflamatórias constantemente. E pra complicar mais, a alteração hormonal relacionada à hormonioterapia favorece perda muscular e ganho de gordura. Portanto, o acompanhamento nutricional auxilia muito nesses casos.

A grande estrela no tratamento de sintomas relacionados à hormonioterapia é ele: o exercício físico. O exercício físico sabidamente reduz dores, fogachos, fadiga, depressão e ansiedade, melhora o sono e concentração. Idealmente, um programa de exercícios deve conter uma combinação de exercícios de fortalecimento, aeróbios e alongamento, pelo menos 3 vezes por semana, pelo menos 30 minutos a cada dia. A composição dos exercícios varia de pessoa para pessoa, e deve levar em conta dores e lesões prévias, preferências pessoais (tem gente que não suporta academia, outros têm medo de água, etc).

Se você vai começar ou já começou o tratamento de hormonioterapia, pode melhorar ainda mais suas condições físicas e ter melhora de sua qualidade de vida. Agende uma consulta para começar a sua reabilitação o quanto antes, e viver melhor.

Sobre o Dr. Victor Leite

Médico graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), com Residência em Fisiatria pelo Hospital das Clínicas da USP e Fellowship em Reabilitação Oncológica pelo Memorial Sloan-Kettering (EUA). Atua principalmente nas áreas de reabilitação oncológica, incluindo o manejo de dor, linfedema, fraqueza muscular, neuropatias periféricas e procedimentos guiados por ultrassom. Atendimento na cidade de São Paulo.

As informações disponíveis neste site possuem apenas caráter educativo. Apenas uma avaliação com um profissional médico possibilitará o diagnóstico de doenças, a indicação de tratamentos e a prescrição de remédios. 

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